tive castanhas descascadinhas por mãos pequeninas
11.11.09
girar
Numa das 500 substituições que fiz esta semana, cheguei a uma escola igual a tantas outras. Não abundava o conforto físico nem emocional. Sem desenhos coloridos pelas paredes e sem tapetes. Passei por alguns miúdos no intervalo que me perguntaram logo quem era e o que fazia ali, e que teimavam em colar-se a mim a agarrar-me o lenço que trazia e a espreitar-me a pasta. Não gosto muito disso, devolvi-lhes uns secos "chamem-me a funcionária por favor" que resultou muito bem porque de repente deixaram de zanzar à minha volta. Como é costume nas substituições até alguem perceber quem é o professor que falta, quem e de que disciplina é o que vem substituir e qual a turma em questão, passa algum tempo. Reconheci uma das miúdas que andava a brincar lá fora mas não sabia de onde. Até que finalmente cheguei à sala, que como a escola, não tinha desenhos coloridos nem tapetes. Não sei porquê, mas não era uma sala bonita. A malta começou a chegar e eu já esperava que não fossem perfeitos. Decididamente não eram, grandes demais para mesas de criança, com ideias pequenas demais para pronto-a-vestir do tamanho do meu. Quando pedi que se apresentassem - nome, idade e sítio onde viviam - saíram coisas como "no lar", "não vivo num sítio certo" ou "vivo sem os meus pais". E a miúda que eu conhecia mas não sabia de onde, estava na minha sala. Ela apresentou-se. E eu vi que conhecia aquela voz, era especial por ser demasiadamente grave para uma menina daquela idade. Eu já tinha falado com ela de certeza. Assim sem jeito ela disse-me: "Eu conheço-te professora". E eu a ti, respondi-lhe, mas não sei de onde, confessei. Ela também não se lembrava.
Voltas e voltas cerebrais depois, a miúda era esta - era daqui que eu me lembrava dela. Há um ano e tal.
Eles gostaram da aula. Rimos, brincamos, tocamos instrumentos idealizados para crianças como se eles fossem crianças. Foi divertido. Parece que amanhã vão levar comigo outra vez. Prometo que vão gostar.