16.5.10

prova de aferição

Vladimir recebeu muitas prendas no Natal, entre livros, discos, jogos de computador, mas gostou sobretudo do equipamento para caçar borboletas. O equipamento incluía uma rede, um frasco de vidro, algodão, éter, uma caixa de madeira com fundo de cortiça, e muitos alfinetes coloridos.

Aquilo deixou-o entusiasmado. Ele gostava de insectos mas não sabia que era possível coleccioná-los, como quem colecciona selos, conchas ou postais, talvez até trocar exemplares repetidos com os amigos. Nessa mesma tarde saiu para caçar borboletas. Foi para o matagal, junto ao rio, atrás de casa, um lugar onde se juntavam insectos de todo o tipo. Já tinha apanhado cinco borboletas, que guardara dentro do frasco de vidro, quando ouviu alguém cantar numa voz de algodão doce – uma voz tão doce e tão macia que ele julgou que sonhava. Espreitou e viu, pousada numa flor, uma borboleta linda como um arco-íris, mas ainda mais colorida e luminosa. Sentiu o que deve sentir em momentos assim todo o caçador: sentiu que o ar lhe faltava, sentiu que as mãos lhe tremiam, sentiu uma espécie de alegria muito grande. Lançou a rede e viu a borboleta soltar-se da flor num voo curto e depois debater-se, já presa, nas malhas de nylon. Passou-a para o frasco e ficou um longo momento a olhar para ela.

– Agora és minha – disse-lhe –, toda a tua beleza me pertence.

A borboleta agitou as asas muito levemente e ele ouviu a mesma voz que há instantes o encantara:

– Isso não é possível – era a borboleta que falava. – Sabes como surgiram as borboletas? Foi há muito, muito tempo, na Índia. Vivia então ali um homem sábio e bom, chamado Buda...

Vladimir esfregou os olhos:

– Meu Deus! Estou a sonhar?

A borboleta riu-se:

– Isso não tem importância. Ouve a minha história. Buda, o tal homem sábio e bom, achou que faltava alegria ao ar. Então colheu uma mão cheia de flores e lançou-as ao vento e disse: voem! E foi assim que surgiram as primeiras borboletas. A beleza das borboletas é para ser vista no ar, entendes? É uma beleza para ser voada.

– Não! – disse Vladimir abanando a cabeça. – Eu sou um caçador de borboletas. As borboletas nascem, voam e morrem, e se não forem os coleccionadores, como eu, desaparecem para sempre.

A borboleta riu-se de novo (um riso calmo, como um regato correndo, não era um riso de troça):

– Estás enganado. Há certas coisas que não se podem guardar. Por exemplo, não podes guardar a luz do luar, ou a brisa perfumada de um pomar de macieiras. Não podes guardar as estrelas dentro de uma caixa. No entanto podes coleccionar estrelas.

Escolhe uma quando a noite chegar. Será tua. Mas deixa-a guardada na noite. É ali o lugar dela.

Vladimir começava a achar que a borboleta tinha razão.

– Se eu te libertar agora – perguntou –, tu serás minha?

A borboleta fechou e abriu as asas iluminando o frasco com uma luz de todas as cores.

– Já sou tua – disse –, e tu já és meu. Sabes? Eu colecciono caçadores de borboletas.

Vladimir regressou a casa alegre como um pássaro. O pai quis saber se ele tinha feito uma boa caçada. O menino mostrou-lhe com orgulho o frasco vazio:

– Muito boa – disse. – Estás a ver? Deixei fugir a borboleta mais bela do mundo.


(texto com supressões)

José Eduardo Agualusa, Estranhões e Bizarrocos

6.5.10

A Catarina quer

que eu seja bonita para sempre.

Eu por mim, vou tentar... :)

e... já cá canta!!






















ou melhor... já cá enfeita o belo do dedo!!! :D