medo, muito medo

Ontem falava do choque do primeiro dia de aulas. Choque foi conhecer a escola onde vou passar todas as terças e quintas feiras. Depois de algumas indicações, lá cheguei à escola. Escola é como quem diz, que eu cá estou habituada a escolas com muitas salas ou eb2,3 gigantes. Pois é, dei com um portão ferrugento e aberto e lá entrei, ainda com dúvidas que estava no sitio certo. Vi uma senhora velhinha, mas muito velhinha mesmo, aí perto de 70 anos (quando tiver mais confiança pergunto). Lá lhe disse boa tarde e perguntei se não estavam à minha espera. E estavam. E eu estava na escola certa. Os miudos eram raquíticos, bastante menores do que todos os que conheci, não só em tamanho mas em quase tudo o que pude apurar. Foi dificil, mas lá dei as aulas que tinha de dar. Entre olhares extasiados para as minhas unhas (que estao esta semana pintadas de rosa barbie - talvez não tenha sido a melhor escolha) e perguntas do género: "porque é que tu não usas saltos altos" lá fui conseguindo sacar aos putos o que tinham aprendido no ano anterior e o que gostavam ou detestavam na disciplina. Até que chegou o intervalo e mudei de turma. Entretanto pedi à senhora contínua (a avózinha que mal conseguia andar) que me dissesse onde era a casa de banho. E ela mostrou-me: "menina, a casa de banho dos adultos é esta". Um metro quadrado, e um balde. "É que a gente tem problemas com a água cá na escola". E eu a tentar disfarçar a surpresa, perguntei-lhe onde podia lavar as mãos - pelos vistos é onde se lava tudo: roupa, louça, mãos - e onde se bebe água. Adiante, na hora de sair lá foram os miudos, todos sozinhos e a pé para casa. Quando me viram a entrar no carro:

- ó prof, o teu carro é velhote!
- pois é!

:)

1ª conclusão: não é preciso ir a cinfães para estar no fim do mundo.
2ª conclusão: mesmo no fim do mundo o meu carro é velhote.
3ª conclusão: ensinar qualquer coisa àqueles miudos vai ser o desafio do ano, para mim pelo menos.